A presidência portuguesa da União Europeia vai chegar aos ‘bolsos’ dos europeus na próxima semana, sob a forma de uma moeda comemorativa, ‘alinhavada’ durante mais de dois anos na Imprensa Nacional-Casa da Moeda para perpetuar a identidade do país.
Ultrapassadas as ‘barreiras’ de segurança, chega-se ao ‘coração’ da Imprensa Nacional-Casa da Moeda (INCM), onde são cunhadas as moedas nacionais (e não só), mas, contrariamente ao que seria expectável, o tilintar do metal foi substituído por um tímido silêncio, só interrompido, a espaços, por um som mecânico vindo de uma sala envidraçada, que parece concentrar todos os esforços da secção de cunhagem.
“A moeda corrente, aquela que vai fazer o seu caminho nas mãos das pessoas e vai ser usada como moeda de troca, deve ser entregue ao Banco de Portugal. Quem coloca a moeda em circulação é o Banco de Portugal. O Banco de Portugal precisa de um mês de antecedência para fazer toda a logística da distribuição no país. A moeda já está entregue no Banco de Portugal, já deve estar nas diferentes delegações para que no dia 4 [de janeiro] possa ser oferecida e posta em circulação”, esclareceu à Lusa Alcides Gama, membro do Conselho de Administração da INCM.
Com as 500 mil moedas correntes, com o valor facial de dois euros, comemorativas da presidência portuguesa do Conselho da União Europeia já entregues ao Banco de Portugal, depois de “um mês, um mês e meio” da produção, o trabalho da equipa de cunhagem centra-se agora nas de acabamento especial: Proof (moedas que apresentam o campo espelhado e os relevos matizados) e BNC (moedas que apresentam o campo e os relevos uniformemente brilhantes).
“São moedas embaladas, com um acabamento mais cuidado, que se destinam aos colecionadores. Essas também já estão praticamente concluídas, porque temos de iniciar a produção das outras moedas de 2021”, explicou Alcides Gama.
São essas moedas especiais, reservadas a colecionadores, que se veem cunhar, num trabalho meticuloso, paciente, em que máquina e moedeiro estão em rigorosa harmonia para darem origem a uma moeda sem máculas ou imperfeições – as que as têm são consideradas refugo e destruídas, porque, como notou o administrador da INCM, são ‘apetitosas’ para os apaixonados pela numismática.
A perícia exigida por estas moedas de colecionador leva a que a equipa de 10 elementos de José Martinho precise de “uma semana e meia” para cunhar as 10 mil moedas, alternando entre o processo das cinco mil com acabamento especial Proof e o das outras tantas com BNC, à medida que os cunhos vão ficando gastos, sendo regravados e regressando, para novo processo idêntico.
“Não há manuais que ensinem a ser moedeiro nem cunhador. Foram aprendendo com outras gerações, como eu estou a aprender ainda. As gerações mais antigas foram passando o conhecimento. Esta situação já se passa há séculos. Depois, há de chegar a nossa vez de passar à geração vindoura”, detalhou à Lusa o chefe da secção de cunhagem da Casa da Moeda, lembrando que aquele trabalho exige “muita concentração e dedicação”.
Embora a moeda comemorativa da quarta presidência portuguesa tenha gerado “algumas dificuldades técnicas”, não foi uma das que tirou o sono a José Martinho, por não ter “grande novidade” para a sua equipa “a nível técnico”.
O mérito será, então, do seu autor, Eduardo Aires, que a desenhou, pensando “ilustrar na moeda toda esta complexidade das relações entre os países, as conexões entre países, e marcou desde Lisboa, que vai assumir a presidência no primeiro semestre, uma ligação com todas as capitais dos diferentes países da zona euro, marcando essa conexão comercial, cultural, digital”.
“Eu acho que é uma moeda muito feliz”, defendeu o administrador da Casa da Moeda, salientando que “é a quarta vez que Portugal assume a presidência e é a quarta vez que a INCM está a cunhar uma moeda alusiva a essa presidência”.
“É muito importante porque, sendo a emissão de moedas um ato de soberania, podem ser aproveitadas para afirmar a cultura, os valores, a identidade de cada um dos países. Ainda por cima, estamos a falar de uma moeda que vai circular pela zona euro e Portugal vai estar nas mãos de diferentes europeus”, reforçou. https://7fa826d1a86ff177348af4058fc81a13.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-37/html/container.html
Após “mais de dois anos” de trabalho, a moeda de dois euros que assinala a presidência semestral da UE vai circular, finalmente, na próxima semana, um momento que enche de orgulho quer José Martinho, quer Alcides Gama.
“É o sentimento de dever cumprido. Estamos aqui para isto, para servir o país”, concluiu o administrador.
Fonte: TSF Rádio Notícias